Aproximando o horizonte, exsurge o Cristo Redentor de braços abertos recepcionando todos os que pela primeira vez visitam a Cidade Branca. Do alto da corcovada montanha, encimando 710 metros de altitude, despeja sobre o leito do Rio a benção para todos os que nele se espelham, a reflexão para aqueles que questionam – a si ou à vida – ou a alegria aos que já encontraram suas respostas e simplesmente vivem.
Nas ruas caminham paixões e apaixonados, gente de toda sorte que, considerando-se com sorte, sorriem e trabalham para por um sorriso em todo passante. O Rio de Janeiro continua lindo, já dizia a música. Não sei se lindo, mas simpático, cordial e receptivo, sem dúvida. Do gari ao motorista de ônibus, são todos solícitos: “Hotel IBIS?! Po dexá que te deixo na rua em frente, daí é só seguir a pé que não tem erro...”; “Pão-de-Açúcar?! Cê pega uma integração até Botafogo, de lá sobe e pega o 107 que chega rapidinho...”. E tal como os que vão a Roma, seguimos conhecendo o Rio de Janeiro.
Naturalmente dividida, aquela cidade, que só é Branca para quem a visita pela primeira vez, exala uma união típica de torcida de futebol: desmedida e emocionada. Fale mal do Rio, mas não fale mal na frente de um carioca. É compreensível o ufanismo. Seja do alto do Pão-de-Açúcar ou do ainda mais alto Corcovado, o que se vê é um espetáculo de belezas naturais cuja concepção só pode ser atribuída à intervenção divina: ilhas, lagos, mares, árvores, florestas, picos, pássaros, todos em perfeita harmonia.
A harmonia do Rio só é quebrada pela espécie dominante. Ela constrói, ergue, admira e se orgulha... e constrói, ergue, admira e se orgulha... e constrói, ergue, admira e se orgulha... E não é assim em todo lugar? É. Mesmo distorcendo as maravilhas criadas pela Natureza, este ser orgulhoso toma o cuidado de olhar com humildade para aquilo do que faz parte. Talvez eles disfarcem, mas lá no fundo sabem que são apenas um pequeno grão ocupando tal espaço e que, mesmo sem ele, e talvez até melhor sem ele, este espaço prosseguirá em esplendor eterno até que seu Criador decida que ele já deslumbrou seres suficientes durante sua existência e que agora é o momento de ceder seu lugar para outra obra de igual ou superior magnitude.
Confesso que me decepcionei com o que vi. Aliás, não com o que vi, mas com a perspectiva que tinha do que veria. Falaram tanto do Rio, mas tanto, tanto, tanto, que achei que, ao chegar, seria acometido por uma visão equivalente à do paraíso e me tornaria iluminado! É claro que estou exagerando... De fato não retornei encantado do Rio de de Janeiro. Talvez porque o visitei em abril. Afinal ele é o Rio de “janeiro”. Piada infame, eu sei.
A despeito de não ficar impressionado, compreendi de forma contundente de onde provém seu encanto e aceito agora, de bom grado, quem por aquela terra está encantado.
Até logo, Rio de Janeiro, espero visitá-lo em breve.
Falou.