Continuando o post anterior.
O compasso possui essa estrutura bonitinha e tudo, mas ele não é uma espécie de célula fechada e intocável. Vale lembrar que, antes de tudo, veio a música e só após surgiram regras que tentam compreendê-la. O compasso é uma regra desse tipo. É ele que se adequa à música e não o contrário (o contrário também é possível, mas o que quero dizer é que o "musicar" livre e espontâneo é mais relevante do que se compor uma música metricamente perfeita).
Dentro dessa ideia, é possível afirmar também que uma música que começa quaternária, por exemplo, não precisa terminar quaternária. Esse compasso pode mudar e causa um efeito interessante.
Um exemplo lindo e bem claro dessa pequena quebra de parâmetros é a música Pra Sonhar, de Marcelo Jeneci e Laura Lavieri.
Ela inicia quaternária (a introdução instrumental onde se destacam violões e um acordeon) e, lá pelos 45 segundos decorridos, mais ou menos quando se inicia o vocal, a música muda para o compasso ternário. Acho que o primeiro pulso do compasso ternário dessa música acontece nos 46 segundos (ao menos na versão que tenho no celular).
Problemas? Nenhum. A música é linda, a letra é linda, os arranjos são lindos, o videoclipe é lindo, enfim...
Ideia final da história: a métrica ajuda a compreender a música (e, posteriormente, vai ajudar a compreender a dança), mas não a determina, limita ou subjuga. Pelo contrário. Ela existe para ajudar e é apenas uma ferramenta, um acessório mesmo, da criatividade musical.