segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Interestelar...




 

Três horas de um filme que te prende na cadeira independente de conforto, fome, sede ou qualquer outra necessidade mundana.

Isso é um exagero, mas serve para dizer que o filme é muito bom. Muito bom mesmo.

Sinopse: a Terra foi pro car... e os seres humanos, aparentemente, desistiram de tentar sobreviver e vivem como podem, aguardando o momento de seu perecimento. Secretamente, a NASA vinha bolando um plano para colonizar um outro planeta e o filme se desenrola nesse mote, contrapondo-se a necessidade de se buscar um novo mundo, uma decisão que beneficia o coletivo, ao desejo de se permanecer junto a quem se ama, uma decisão puramente individual.

Ao fim, o filme dá uma guinada fantástica, tornando o desfecho bem legal. Só não curti um detalhezinho de nada do final, mas este não tirou o brilho da obra como um todo. Não vou entrar em detalhes sobre a história nem dar spoilers, mas faço questão de falar sobre o modo escolhido para contá-la.

Bom, Interestelar é uma ficção científica que, acertadamente, não menciona quando os fatos narrados aconteceram. Não há menção a datas ao longo do filme, apesar de carros, roupas, instrumentos, arquitetura et cetera darem uma pequena noção a esse respeito. Mas, ao mesmo tempo que esses objetos nos são familiares, há naves, robôs e itens de tecnologia que denunciam uma época mais avançada no futuro. A impressão de que se trata de uma história no tempo presente deixa de existir, quando se percebe que o mundo ali mostrado é um mundo pós-apocalíptico, é o que sobrou após determinada "mudança" no planeta. No caso do filme, tal mudança levou a civilização humana a direcionar todos os esforços para a produção de comida. Essa é a prioridade. Carros, computadores e utensílios em geral ainda utilizados são os que provavelmente já existiam quando da catástrofe, daí porque estamos no futuro, mas olhando para coisas que reconhecemos como sendo típicas do nosso tempo presente.

Além do que mencionei, a história envolve avanços tecnológicos na área referente a viagens espaciais (naves, velocidade, tempo, coisas assim) e, de novo acertadamente, ninguém se preocupou em explicar como as coisas funcionam do jeito que funcionam. Isso é fantástico! Por que? Porque afasta o telespectador da necessidade de avaliar se o que está sendo mostrado é plausível ou não. Ninguém menciona, por exemplo, como a nave consegue entrar em órbita ou que combustível ela utiliza, tampouco se fala sobre a mecânica e a química presente na câmara de hibernação, enfim. Dessa forma, pode-se focar a audiência na história e nada mais. A gente senta na cadeira, assiste ao filme e presume que tudo o que está acontecendo é ou será possível após alguns  anos de estudo e desenvolvimento. Pronto. E só! Nada de julgamentos (não sobre esses aspectos, ao menos).

É isso.

Assistam.

É muito bom.

P.S.: do meu ponto de vista, a ficção científica mostrada no filme não é o tema principal, mas um pano de fundo para a história de amor, dedicação e sobrevivência que se passa entre as personagens.


terça-feira, 11 de novembro de 2014

Percepção Musical.







Respondendo ao comentário da minha amiga Meia-Alemã no post anterior, digo que sentir a música é algo essencial à percepção da mesma. Não tenho dúvidas quanto a isso. O problema é que as poucas pessoas que ouço falarem a respeito do que significa "sentir a música" geralmente tecem comentários um tanto quanto pretensiosos, como se esse "sentir" fosse uma dádiva divina concedida apenas aos dançarinos escolhidos pelo universo para serem os melhores... Bullshit.

Não sendo suficiente esse discurso, essas mesmas pessoas, para demonstrar o que estão falando, vão dançar de improviso para que seus "discípulos" vejam do que estão falando. Daí eles escolhem uma música e dançam... ¬¬ ... Perdoem-me meu ceticismo, mas a música escolhida nunca é uma nova e desconhecida. Não. É alguma "queridinha" de quem vai dançar ou do público... Aí, meus amigos, não vale... Conhecendo a música, é simplesmente muito fácil dançar com musicalidade. Você já a conhece, já sabe de forma antecipada o que nela vai acontecer... Com tudo isso, é muito simples programar um movimento para encaixar na música e dizer que isso é "sentimento".

Uma das coisas que pretendo aqui é retirar dos egoístas o conhecimento que eles acham que tem e mostrá-lo para qualquer um que se interesse por dançar, ou por musicar ou pelos dois. Minha intenção é desmistificar o que alguns teimam em dizer que é difícil, que é algo compreendido apenas por quem tem essa """""dádiva""""".

É isso.

Prosseguindo.

Musicalidade é percepção musical. Todos a temos, sem exceção (até um surdo, só que ele está limitado pela ausência de audição e tem de se valer dos outros sentidos para isso). E o que é percepção musical? Para responder essa pergunta, podemos fazer uma pequena divisão e falar em percepção musical sensorial e percepção musical técnica.

Percepção musical sensorial.

Essa é a percepção que todos nós temos desde criança, quiçá desde o ventre materno. É a percepção íntima. É o que a música fala com você e só com você. É o que ela te faz sentir e pensar. Dessa percepção, se é gerada uma vontade de mexer o corpo, surge a dança. Esse mexer-se decorrente dessa percepção e gerando uma dança, por sua vez, origina um dançar puro, livre de julgamentos e perfeito por definição, pois não está submetido a qualquer regra ou valor. Ele é o que é e ponto final.

Essa percepção pulsa e é muito presente nas primeiras fases da vida, quando ainda se é criança, mas é reprimida paulatinamente ao passo que se inicia a formação do ego e passamos a nos importar com o que os outros pensam. A partir daí, ou não dançamos mais ou, quando o fazemos, tentamos fazer de acordo com o que se considera comum, correto, normal etc. Isso falando de modo geral, claro, pois sempre há exceções.

É importante dizer que a percepção musical sensorial não acaba nunca. Ela não se esgota ou simplesmente deixa de existir. Ela é apenas guardada (às vezes bem guardada demais) e, se trabalhada da forma certa, pode surgir de novo e ser potencializada.

Retomando um pouco o assunto do início do post, devo dizer que existe outro equívoco referente à essa história de sentir a música. Muito se fala que, sentindo a música, é possível prever o que nela vai acontecer... Bullshit 2. Não, não é possível prever. É sim possível sentir que algo vai mudar, que vai ser alterado na progressão musical, mas prever e ter certeza do que acontecerá não é possível.

Essa previsibilidade é parcialmente possível quando se trabalha a percepção musical técnica, obtendo-se resultado bem semelhante ao que se consegue com a percepção musical sensorial, no entanto com um grau de certeza um pouco maior. QUE ABSURDO!!! ESSA PESSOA DIZENDO QUE SER TÉCNICO É MELHOR DO QUE SER EMOTIVO!!!! Controlem-se, por favor, pessoas que adoram dizer que vivem de acordo com seu coração. Não é isso que estou falando.

Se você, de fato, consegue se conectar com a música de forma a fundir-se emocionalmente com ela, com seu espírito, sua intenção e seus instrumentos, ótimo! Parabéns! Você é um em um milhão (ou mais) e estará plenamente apto a "prever" a música.

Eu não questiono os resultados fantásticos que se pode obter em musicalidade quando nos deixamos levar pela emoção. De forma nenhuma. O problema aqui está em se colocar num estado espiritual de presença e liberdade que permita essa conexão absoluta. O trabalho para se colocar em tal estado sim é muito difícil (difícil meeeeeesmo) e é exatamente onde a percepção musical técnica vem ajudar.

Por que é difícil? Pelo seguinte: considero que a percepção musical sensorial está arraigada na essência. A essência é aquilo que somos de forma verdadeira e inteira. É o todo que nos faz únicos e supera muito a soma de nossas partes. É o elemento de nosso âmago (um elemento dá a ideia de partição, de algo menor, mas, na verdade, trata-se de um elemento universal, pois engloba, como disse, tudo o que somos) que nos conecta com o universo e com tudo o que se tem de transcendental nele. Quanto mais integrados estamos com nós mesmos, mais nos aproximamos de nosso verdadeiro ser e mais agimos de acordo com nossa essência.

Já tive a oportunidade de experimentar algo parecido com esse estado, há alguns anos atrás, após duas semanas de um trabalho intensivo de autoconhecimento, e não tenho palavras para descrever de forma apropriada do que se trata. É, no mínimo, mágico. Em termos mundanos, o que posso dizer é que, após o trabalho, você se sente disposto a tudo, que existe energia em você de forma infinita, que tudo é possível, que todos os problemas são, na verdade, pequenos e por aí vai.

Lembro demais de olhar para mim mesmo, após o trabalho que citei, e perceber que eu era a mesma pessoa de antes, mas que havia algo de diferente. Quando me perguntavam, dizia: "eu me sinto a mesma pessoa, mas agora tenho uma segunda perspectiva". Fico feliz em dizer que acho que ainda não perdi essa segunda perspectiva e que continuo trabalhando para mantê-la viva. Essa experiência, inclusive, foi que abriu os poros do meu espírito e me permitiu admitir para mim mesmo, dentre outras coisas, o quanto gosto de dançar e o quanto isso é fácil, desde que você esteja livre o suficiente para se permitir e se liberar. Apesar dos excelentes resultados, o que passei nessas duas semanas foi bem doloroso e mexeu com coisas que, durante minha vida inteira, preferi deixar trancadas a sete chaves num cofre esquecido em algum poço profundo da minha alma.

Enfim...

O estado de graça ou de quase graça alcançado após um trabalho desse tipo (o que eu fiz não é o único capaz de gerar esses resultados) é o ideal para abrir a percepção musical sensorial. Por que? Porque, nesse estado, tudo o que se refere ao sentir está aberto. Simples assim. E o que se faz para chegar até aí? O que se faz num trabalho desses? Algo simples, mas não tão fácil de se fazer:  conhecer a si próprio. Mas não é qualquer conhecimento. É algo profundo. É buscar a origem de desejos e repulsas, de traumas e sucessos, de identificações positivas e negativas e muito mais para, no fim, entender, com tudo isso, o que você é, o que se tornou e o que pode vir a ser.

Feito isso, fica natural sentir o que quer que seja, inclusive uma música. E é aí, é nesse estado de espírito (e me arrisco a dizer que só nele), que o sentir a música ganha um significado verdadeiro.

Como não dá para todas as pessoas fazerem um trabalho profundo de autoconhecimento (deveriam, mas...), acho que existe um jeito de provocar certas liberações ou, melhor dizendo, libertações do espírito com um método um pouco mais simples.

E é aqui que acredito que a percepção musical técnica pode ser de muito auxílio, mas isso fica para outro post, porque esse já está bem grandinho.




quarta-feira, 5 de novembro de 2014

E dancemos com musicalidade, pois, de outra forma, não há dança...







Então eu vinha falando sobre compasso. Ele é a estrutura mínima que compõe a música e possui várias formas, importando, nesse momento, o compasso quaternário (90% das músicas que se escuta são quaternárias), ao qual vou me ater daqui para frente. 

Pausando um pouco essa questão formal (mas ela será retomada), vou falar sobre algo um tanto quanto abstrato e estranhamente difícil de se compreender: musicalidade. Sabe lá Deus quantos posts serão necessários para esse assunto, então que fique claro que esse é apenas o primeiro e, consequentemente, não encerra o tema.

E que fique claro também que esse tema será desenvolvido tomando como perspectiva a dança.

Enfim...

O que raios é musicalidade? Ouvindo e vendo várias pessoas do meio da dança falando sobre isso, percebi que ninguém entende propriamente do que se trata. A maioria desse povo fala que musicalidade é sentir a música (não dá para ser mais vago e impreciso do que isso.. ) ou que musicalidade é dançar no tempo da música (no tempo 1, no tempo 3... etc). Ambos não me parecem fazer ideia da dimensão do que estão falando e acabam ensinando a coisa toda de forma equivocada.

Enfim, é uma pequena confusão. E bem desnecessária, diga-se de passagem.

Vamos por partes.

Sentir a música é e, ao mesmo tempo, não é musicalidade. Por quê? Sentir música é uma forma de musicalidade, porque quem escuta uma música produz sentimentos através dela ou possui sentimentos despertados por ela, criando, em maior ou menor grau, um enlace emocional com o que se escuta, o que leva o ouvinte a se conduzir de acordo com esses sentimentos (cantar, se balançar no carro, bater o pé, fechar os olhos numa parte mais dramática etc) e, em consequência, conduzir-se de acordo com a música. Sentir a música, ao contrário, não é musicalidade porque os mesmos sentimentos por ela despertados podem levar o ouvinte a interpretar de forma equivocada a sua intenção (a intenção da música) e simplesmente permanecer desconectado do seu cerne, levando-o a se conduzir de forma estranha à música.

Dançar no tempo da música é e, ao mesmo tempo, não é musicalidade. Por quê? Dançar no tempo da música não é musicalidade, porque tempo se conta com números e não é legal se dançar com números. Você dança com a melodia, com a batida, com a voz, com o arranjo, com todos eles ao mesmo tempo e assim por diante, mas não com números. De outra forma, dançar no tempo da música é musicalidade, porque, sendo possível dividir a música em uma célula mínima (compasso) e percebendo-se que tal célula se repete ao longo de toda a música, nota-se que determinados sons e batidas, igualmente, também se repetem durante toda a música. Dessa forma, conseguindo dançar de acordo com, por exemplo, um dos pulsos do compasso (suponha o pulso fraco 2), haverá um mínimo de musicalidade na dança, pois, o que quer que seja realizado musicalmente neste tempo, será repetido todas ou algumas vezes ao longo da música, em cada compasso, nesse mesmo momento. Ou seja, se alguém dançar baseando seus movimentos no tempo 2, alguma musicalidade estará acontecendo.

E o que é musicalidade afinal? Musicalidade é percepção musical; é literalmente perceber o que está acontecendo na música. Todos nós, sem exceção, temos nossa musicalidade em 100%. O que muda de alguém mais experiente para outro que não tenha tanto costume em lidar com isso é meramente uma questão de nível ou grau de percepção.

O que quero dizer é que todos temos potencialmente a mesma capacidade de percepção musical, mas nem todos a utilizam da mesma maneira ou com a mesma intensidade.

Dessa percepção musical é que vem o sentir a música e o dançar no tempo da música. É dessa percepção que decorre o "dançar com musicalidade", expressão que faço questão de destacar, porque ela vai ser bem importante mais para frente.

E é isso, por enquanto.