quarta-feira, 5 de novembro de 2014

E dancemos com musicalidade, pois, de outra forma, não há dança...







Então eu vinha falando sobre compasso. Ele é a estrutura mínima que compõe a música e possui várias formas, importando, nesse momento, o compasso quaternário (90% das músicas que se escuta são quaternárias), ao qual vou me ater daqui para frente. 

Pausando um pouco essa questão formal (mas ela será retomada), vou falar sobre algo um tanto quanto abstrato e estranhamente difícil de se compreender: musicalidade. Sabe lá Deus quantos posts serão necessários para esse assunto, então que fique claro que esse é apenas o primeiro e, consequentemente, não encerra o tema.

E que fique claro também que esse tema será desenvolvido tomando como perspectiva a dança.

Enfim...

O que raios é musicalidade? Ouvindo e vendo várias pessoas do meio da dança falando sobre isso, percebi que ninguém entende propriamente do que se trata. A maioria desse povo fala que musicalidade é sentir a música (não dá para ser mais vago e impreciso do que isso.. ) ou que musicalidade é dançar no tempo da música (no tempo 1, no tempo 3... etc). Ambos não me parecem fazer ideia da dimensão do que estão falando e acabam ensinando a coisa toda de forma equivocada.

Enfim, é uma pequena confusão. E bem desnecessária, diga-se de passagem.

Vamos por partes.

Sentir a música é e, ao mesmo tempo, não é musicalidade. Por quê? Sentir música é uma forma de musicalidade, porque quem escuta uma música produz sentimentos através dela ou possui sentimentos despertados por ela, criando, em maior ou menor grau, um enlace emocional com o que se escuta, o que leva o ouvinte a se conduzir de acordo com esses sentimentos (cantar, se balançar no carro, bater o pé, fechar os olhos numa parte mais dramática etc) e, em consequência, conduzir-se de acordo com a música. Sentir a música, ao contrário, não é musicalidade porque os mesmos sentimentos por ela despertados podem levar o ouvinte a interpretar de forma equivocada a sua intenção (a intenção da música) e simplesmente permanecer desconectado do seu cerne, levando-o a se conduzir de forma estranha à música.

Dançar no tempo da música é e, ao mesmo tempo, não é musicalidade. Por quê? Dançar no tempo da música não é musicalidade, porque tempo se conta com números e não é legal se dançar com números. Você dança com a melodia, com a batida, com a voz, com o arranjo, com todos eles ao mesmo tempo e assim por diante, mas não com números. De outra forma, dançar no tempo da música é musicalidade, porque, sendo possível dividir a música em uma célula mínima (compasso) e percebendo-se que tal célula se repete ao longo de toda a música, nota-se que determinados sons e batidas, igualmente, também se repetem durante toda a música. Dessa forma, conseguindo dançar de acordo com, por exemplo, um dos pulsos do compasso (suponha o pulso fraco 2), haverá um mínimo de musicalidade na dança, pois, o que quer que seja realizado musicalmente neste tempo, será repetido todas ou algumas vezes ao longo da música, em cada compasso, nesse mesmo momento. Ou seja, se alguém dançar baseando seus movimentos no tempo 2, alguma musicalidade estará acontecendo.

E o que é musicalidade afinal? Musicalidade é percepção musical; é literalmente perceber o que está acontecendo na música. Todos nós, sem exceção, temos nossa musicalidade em 100%. O que muda de alguém mais experiente para outro que não tenha tanto costume em lidar com isso é meramente uma questão de nível ou grau de percepção.

O que quero dizer é que todos temos potencialmente a mesma capacidade de percepção musical, mas nem todos a utilizam da mesma maneira ou com a mesma intensidade.

Dessa percepção musical é que vem o sentir a música e o dançar no tempo da música. É dessa percepção que decorre o "dançar com musicalidade", expressão que faço questão de destacar, porque ela vai ser bem importante mais para frente.

E é isso, por enquanto.




Um comentário:

Isabel. disse...

Entendi tudo, mas não tenho consciência suficiente sobre o assunto pra fazer um comentário agregador, ou uma crítica.
Pra ser bem sincera, minha definição de musicalidade era justo o "sentir a música".
Vivendo e aprendendo...